Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Discurso de Bento XVI aos participantes na conferência internacional sobre as estaminais

Nada justifica a destruição
nem sequer de uma só vida humana


A Igreja não impede o progresso da ciência, pelo contrário guia-o a fim de que seja fecundo e de benefício para a humanidade. Afirmou o Papa durante a audiência concedida, sábado 12 de Novembro, aos participantes na conferência internacional sobre as estaminais, promovida pelo Pontifício Conselho para a Cultura.
Eminência
Queridos Irmãos Bispos
Excelências
Distintos Convidados
Queridos Amigos

Desejo agradecer ao Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, as suas amáveis palavras e por ter promovido esta Conferência Internacional sobre as Células estaminais adultas: a ciência e o futuro do homem e da cultura. Agradeço ao Arcebispo Zygmunt Zimowski, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, e ao Bispo Ignacio Carrasco de Paula, Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, pela sua contribuição para este esforço particular. Dirijo uma palavra especial de gratidão aos numerosos benfeitores, cujo apoio permitiu este evento. A este respeito, gostaria de manifestar o apreço da Santa Sé pelo trabalho desempenhado por várias instituições a fim de promover iniciativas de carácter cultural e formativo de apoio à investigação de alto nível sobre as células estaminais adultas e estudar as implicações culturais, éticas e antropológicas relativas ao seu uso.
A pesquisa científica oferece uma oportunidade única para explorar as maravilhas do universo, a complexidade da natureza e a beleza peculiar do universo, inclusive a vida humana. Todavia, visto que os seres humanos possuem uma alma imortal e são criados à imagem e semelhança de Deus, existem dimensões da existência humana que estão além do que as ciências naturais são capazes de determinar. Se estes limites forem excedidos, corre-se o sério risco de que a dignidade única e a inviolabilidade da vida humana possam ser sujeitas a considerações puramente utilitaristas. No entanto se, pelo contrário, estes limites forem devidamente respeitados, a ciência pode dar uma contribuição notável para a promoção e a protecção da dignidade do homem: com efeito, nisto consiste a sua utilidade autêntica. O homem, o agente da pesquisa científica, por vezes, na sua natureza biológica, será o objecto desta investigação. Apesar de tudo, a sua dignidade transcendente dá-lhe o direito de permanecer sempre o beneficiário final da investigação científica e de nunca ser reduzido a seu instrumento.
Neste sentido, os benefícios potenciais da investigação sobre as células estaminais adultas são consideráveis, pois dá a possibilidade de curar doenças crónicas degenerativas reparando o tecido danificado e restabelecendo a sua capacidade de se regenerar. A melhoria que estas terapias prometem seria um significativo passo em frente na ciência médica, oferecendo uma nova esperança aos doentes e às suas famílias. Naturalmente, por esta razão, a Igreja encoraja aqueles que conduzem e apoiam pesquisas deste tipo, obviamente desde que sejam realizadas tendo em conta o bem integral da pessoa humana e o bem comum da sociedade.
Esta condição é fundamental. A mentalidade pragmática que muitas vezes influencia a tomada de decisões no mundo de hoje está sempre pronta para aprovar qualquer instrumento disponível para alcançar o objectivo desejado, apesar das amplas evidências das consequências desastrosas desta maneira de pensar. Quando o objectivo estabelecido é tanto desejável quanto a descoberta de uma cura para as doenças degenerativas, os cientistas e os políticos sentem-se tentados a ignorar todas as objecções éticas e a prosseguir com qualquer pesquisa que ofereça a perspectiva de sucesso. Aqueles que defendem a pesquisa sobre as células estaminais embrionárias com a esperança de conseguir este resultado cometem o erro grave de negar o direito inalienável à vida de todos os seres humanos desde a concepção até à morte natural. A destruição de uma só vida humana nunca pode ser justificada em termos do benefício que poderia presumivelmente ser alcançado por outra. Todavia, em geral, as questões éticas não surgem quando as células estaminais são retiradas dos tecidos de um organismo adulto, do sangue do cordão umbilical no momento do nascimento ou dos fetos que morreram por causas naturais (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, instrução Dignitas Personae, n. 32)
Por conseguinte o diálogo entre ciência e ética é de grande importância para garantir que os progressos médicos nunca sejam realizados pagando um preço humano inaceitável. A Igreja contribui para este diálogo ajudando a formar as consciência de acordo com a recta razão e à luz da verdade revelada. Ao fazer isso, procura não obstacular o progresso científico mas, ao contrário, orientá-lo numa direcção que seja verdadeiramente fecunda e benéfica para a humanidade. Com efeito, a Igreja está convencida de que tudo o que é humano, inclusive a pesquisa científica, "não só é acolhido e respeitado pela fé, mas é através dela purificada, elevada e aperfeiçoada" (ibidem, n. 7). Deste forma, a ciência pode ser ajudada a servir o bem comum da humanidade inteira, com especial atenção para os mais débeis e os mais vulneráveis.
Ao chamar a atenção para as necessidades dos indefesos, a Igreja não pensa apenas nos nascituros, mas também naqueles que não têm fácil acesso a tratamentos médicos dispendiosos. A doença não é selectiva com as pessoas e a justiça exige que seja feito qualquer esforço a fim de que todos os que dela necessitam possam beneficiar dos resultados da pesquisa científica, independentemente das suas possibilidades económicas. Além das considerações meramente éticas, é necessário enfrentar questões sociais, económicas e políticas para garantir que os progressos da ciência médica estejam a passo com uma oferta de serviços de saúde justa e equitativa. Neste sentido, a Igreja é capaz de oferecer assistência concreta através do seu vasto apostolado médico, activo em numeroso países do mundo, e destinado com uma preocupação especial às necessidades dos pobres do mundo. Queridos amigos, ao concluir as minhas observações, desejo garantir-vos a minha recordação especial na oração e confiar à intercessão de Maria, Salus infirmorum, todos vós que trabalhais tão assiduamente para levar curas e esperança aos que sofrem. Rezo a fim de que o vosso empenho na pesquisa sobre as células estaminais adultas dê abundantes bênçãos para o futuro do homem e enriquecimento autêntico à sua cultura.
Concedo de bom grado e de coração a minha Bênção Apostólica a vós, às vossas famílias, aos vossos colaboradores e a todos os enfermos que beneficiam da vossa generosa competência e dos resultados do vosso trabalho. Muito obrigado!

(©L'Osservatore Romano - 19 de Novembro de 2011)
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