Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Orando com Dom Helder

Dia 16  de novembro de 1965, antes da clausura do Concílio Vaticano II, 40 padres conciliares celebraram a Eucaristia nas catacumbas de domitila, em Roma e firmaram o "Pacto das Catacumbas". Signatários brasileiros e latino-americanos se comprometeram a viver na pobreza, rejeitando símbolos ou privilégios do poder e colocando os pobres no centro do seu ministério pastoral. Um dos propositores desse Pacto foi Dom Helder Câmara, franciscano secular, cujo centenário de nascimento foi celebrado em 2009. Eis um extrato do Pacto das Catacumbas para nossa reflexão orante:

Pacto das Catacumbas da Igreja Serva e Pobres

Nós, bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os irmãos no Episcopado; contando, sobretudo, com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas Dioceses, colocando-nos pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacerdotes e fiéis de nossas Dioceses, na humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas acreditando que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que segue:

. Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue Mt 5,3; 6,33s; 8,20), renunciando à aparência e riqueza, especialmente nos trajes (fazendas ricas, cores berrantes) e insígnias de matéria preciosa, que devem ser evangélicos. Nem ouro, nem prata (Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6).
. Não possuiremos, em nosso nome, nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco e, se for preciso possuir, poremos no nome da Diocese ou de obras sociais-caritativas (Mt 6,19-21; Lc 1, 33s).
. Sempre que possível, confiaremos a gestão financeira e material de nossa Diocese a uma comissão de leigos competentes e côncios do seu papel apostólico, a fim de sermos menos administradores do que pastores e apóstolos (Mt 10,8; At 6, 1-7).
. Recusaremos ser chamos, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder, preferindo o nome evangélico de padre (Mt 20,25-28; 23,6-11; Jo 13,12-15).
. No comportamento e relações sociais, evitaremos tudo que pareça conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e poderosos, como por exemplo, participação em banquetes oferecidos ou aceitos (Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19).
. Evitaremos incentivar a vaidade de quem quer que seja, com a finalidade de obter dádivas. Convidaremos os fiéis a considerarem as doações como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social (Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4).
. Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, ao serviço apostólico e pastoral às pessoas e grupos, economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da Diocese (Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12).
. Cônscios das exigências da justiça, caridade e de suas relações mútuas, procuraremos transformar obras de "beneficência" em obras sociais, levando em conta as necessidades de todas as pessoas, como humilde serviço aos órgãos públicos competentes (Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s).
. Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo governo e pelos serviços públicos ponham ponham em prática leis, estruturas e instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e desenvolvimento harmônico e pleno de todas as pessoas (At 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8,9; 1Tm 5,16). T

Revista Paz e Bem - Ano 48 - Nº 301 - Janeiro/fevereiro - 2010
















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