Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

domingo, 30 de outubro de 2011

Como S. Francisco, estando com os companheiros a falar de Deus, ele apareceu no meio deles.

Estando S. Francisco uma vez, nos princípios da Ordem, recolhido com seus companheiros a falar de Cristo, em um convento, no fervor de espírito mandou a um deles que em nome de Deus abrisse a boca e falasse de Deus o que o Espírito Santo lhe inspirasse. Obedecendo o irmão à ordem e falando maravilhosamente de Deus, S. Francisco lhe impôs silêncio e mandou a outro irmão que fizesse o mesmo. Obedecendo este, e falando subtilíssimamente de Deus, S. Francisco lhe impôs o silêncio e ordenou ao terceiro que falasse de Deus. O qual semelhantemente começou a falar tão profundamente das coisas secretas de Deus, que certamente S. Francisco conheceu que ele, como os outros, falava pelo Espírito Santo. E isto ainda se demonstrou por nítido sinal; porque, estando neste falar, apareceu Cristo bendito no meio deles sob as espécies e em forma de um jovem belíssimo, e abençoando-os, encheu-os a todos de tanta doçura, que todos foram arrebatados de si mesmos, sem sentir nada deste mundo. E depois, voltando-se a si, disse-lhes S. Francisco: Irmãos meus caríssimos, agradecei a Deus, que quis pela boca dos simples revelar os terouros da divina sapiência; porque Deus é aquele que abre a boca aos mudos e faz falar sapientíssimamente a lingua dos simples. Em seu louvor. Amém.

Capítulo XIV do I Fioretti de São Francisco de Assis. Ed. Vozes/1973 - 5ª Edição.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Orando com São Francisco

Palavras de Santa Exortação a Todos os Irmãos.

Da Paciência

O servo de Deus não pode conhecer em que medida possui a paciência e a humildade, enquanto se sentir satisfeito em tudo. Quando porém vier o tempo em que o contrariarem os que deveriam andar conforme os seus desejos, então, quanta paciência e humildade ele manifestar, tanta terá e nada mais.

Da Pobreza de Espírito

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5,3). Muitos há que são zelosos na oração e no culto divino, e praticam muito a abstinência e a mortificação corporal. Mas por causa de uma única palavra que lhes pareça ferir o próprio eu ou de alguma coisa que se lhe tire, logo se mostram escandalizados e perturbados. Estes não são pobres de espírito, pois quem é deveras pobre de espírito odeia a si mesmo (cf. Lc 14,26; Jo 12,25) e ama aos que lhe batem na face (Mt 5,39).

Da Paz

"Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9). São verdadeiramente pacíficos os que, no meio de tudo quanto padecem neste mundo, se conservam em paz, interior e exteriormente, por amor de nosso Senhor Jesus Cristo.

Da Pureza de Coração

"Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus" (Mt 5,8). Têm o coração puro os que, desprezando as coisas terrenas, procuram as celestiais e, de coração e espírito puros, não cessam de adorar e de ver sempre o Deus vivo e verdadeiro.