Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

terça-feira, 19 de julho de 2011

Simplificar a Vida

Os franciscanos seculares se empenhem em reduzir as exigências pessoais para melhor poderem partilhar os bens espirituais e materiais com os irmãos, sobretudo com os mais carentes. Dêem graças a Deus pelos bens recebidos, usando-os como bons administradores e não como proprietários. Tomem posição firme contra o consumismo e contra as ideologias e as praxes que antepõem a riquezaa aos valores humanos e religiosos e que permitem a exploração do homem (Constituições Gerais da OFS Art.15,3)

1. Simplificar a vida significa torná-la mais solta, menos cheia de coisas amarradas.
Os franciscanos seculares vivem no concreto do mundo de hoje, marcado pela pressão do ter e do apararecer, do possuir e da busca do prestígio, numa terra estressante. Pobres ou remediados situam-se diante da realidade dos bens. Não podem ser escravos deles. São pessoas que prezam a verdadeira liberdade. Dentro da perspectiva do caminho da conversão são convidados a reduzir as exigências pessoais. Os que exigem sempre isto ou aquilo podem ser pessoas preocupadas demais consigo mesmas e com seu ego. No caminho do despojamento evangélico será fundamental não esigir mais dinheiro, não se escravisar pela idéia da competição. Isto não quer dizer que venha os franciscanos a serem indolentes, indiferentes ao progredir na vida. Há o perigo de dependerem dos bens e não de Deus.

2. Simplicidade, redução de exigências significa colocar-se à disposição dos outros. Não existimos para nós mesmos, para guardar em celeiros o que produzimos, para esconder nossos talentos dos outros.

3. Somos administradores dos bens e não proprietários. O Senhor no-los dá para serem partilhados. Há os bens, o dinheiro, uma herança que podem ser colocados à disposição dos irmãos da Fraternidade. Há esse jeito para falar, essa facilidade para instruir, esse carisma para aliviar a tristeza dos outros. Ser franciscano é recusar toda de acumulação indébita e desnecessária. Quanto mais damos e damos com generosidade, mais nos é propiciado.

4. Tocamos o tema do amor fraterno. A simplicidade de vida torna viável a convivência com os outros. O artigo das CCGG que estudamos está vinculado ao espírito de pobreza: somos administradores dos bens e não seus proprietários e assim, com nossas "economias" aliviamos as carências dos outros.

5. O texto nos leva ao despreendimento, despojamento que torna o franciscano secular uma pessoa alegre por poder conviver com os mais simples, não com espírito paternalista, mas na ânsia de criar comunhão. Os pobres de coração, os não complicados, criam laços com os que cercam.

6. A simplificação da vida faz com que os franciscanos seculares tomem posição contra o consumismo desregrado, Nos últimos quarenta anos, talvez, vivemos intensamente a sociedade do consumo. Não há como fugir: carros novos, aparelhos cada vez mais sofisticados, máquinas com inovações a cada momento. Consomem-se bens e consomem-se pessoas. E os que podem, deixam-se possuir pela febre de consumo. Compram por comprar. Acumulam por acumular. Vão se tornando pessoas sem critério de tal sorte que pensam valer pelo que possuem e sofrem quando têm que diminuir o status de vida. Há aqueles que, desempregados, choram por terem que vender o supérfluo para pagar o necessário.

7. A festa de casamento do filho de um terceiro franciscano se faz com alegria, mas sem ostentação. As comemorações e eventos são marcados por uma profunda alegria, mas nunca pelo desejo de competir e ofuscar os outros. Os franciscanos que viajam, por exemplo, e usufluem dos bens não deixam de participar da missa dominical sob qualquer pretexto. A sociedade do consumo não pode inocular o seu veneno naquele e naquelas que desejam seguir o Evangelho de Jesus Cristo em suas vidas.

8. "Os companheiros mais íntimos do fundador, que também estavam mais ligados à primitiva experiência, viram na simplicidade, unida inseparavelmente à pobreza, em suas mais variadas expressões no que dizia respeito à casa, mobilias, livros, vestes e coisas semelhantes, a inspiração e o próprio fundamento do movimento franciscano. Tudo devia respirar singeleza e pobreza, segundo a pureza evangélica, segundo a vocação dos Frades Menores e a profissão de testemunhas da esperança diante dos homens" (Legenda Perusina 75). (Dicionário Franciscano, p. 709).

9. Os que simplificam a vida não ficam muito preocupados com as oscilações da bolsa e coisas análogas. Esses vão se tornando leves, suas bagagens são cada vez mais reduzidas e assim podem alçar vôo na direção da pátria. Passam eles a idéia de que são peregrinos e viandantes nesta terra dos homens. E essa postura evangeliza e encanta aqueles que têm a graça de conviver com esses homens e essas mulheres simplificados em seu existir.

10. "A santa simplicidade era o ideal que o bem-aventurado queria atingir e era a virtude que ele gostava de encontrar nos outros, mas não uma simplicidade qualquer, e sim aquela à qual Deus é suficiente e para o qual todo o resto não é nada" (2Celano 189).

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM (RJ)
Assistente Espiritual Nacional da OFS. Revista Paz e Bem, setembro/outubro-2007















































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