Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O PRESÉPIO DE GRÉCCIO

Aproximava-se o Natal de 1223 e São Francisco, que sempre venerara com singular devoção o mistério de Deus Menino e que sempre recordava Belém, achando-se no eremitério de Fonte Colombo, disse a João Velita, gentil-homem da Ordem Terceira (OFS), seu amigo e seu admirador como os tinha por toda parte: "Monsior João, se me quiseres ajudar, celebraremos este ano o mais belo Natal que jamais se viu".
"Certo que quero, meu pai".
"Num dos bosques que cercam o eremitério de Gréccio há uma gruta semelhante à de Belém. Quereria representar a cena do Natal e ver com os olhos do corpo a pobreza na qual Jesus Menino veio ao mundo e como foi acomodado em sua manjedoura, ficando entre o boi e o asno. Tenho licença do santo Padre para fazer esta evocação da Natividade do Cristo".
"Compreendi. Deixa tudo por minha conta, meu pai".
Na noite de Natal os sinos do vale de Rieti bimbalhavam festivamente e os habitantes, avisados da nova celebração, acorriam das aldeias, dos castelos, dos casais mais distantes, pelos caminhos saibrosos, sob a cintilação das estrelas, pela noite gelada, mas límpida. Acorriam, levando oferendas como os pastores da Judéia, enquanto dos eremitérios de Fonte Colombo e de Póggio Bustone e de outros lugares vinham os frades em procissão, com tochas acesas, entoando litanias, meio devotos, meio curiosos da grande novidade. Mas quando entraram na gruta preparada pela solicitude de João Velita sob a ardente inspiração de São Francisco, ficaram encantados. Ali está sobre uma pedra para a celebração da missa a manjedoura com as palmas; ali estão o boi e o asno. Não está ainda o Menino, mas à Elevação descerá invisivelmente na Hostia e aquilo que falta, à visão da Virgem, de São José e dos anjos, supre São Francisco, que vestido solenemente de diácono, canta o Evangelho com voz tão musical, clara e harmoniosa, que lembra o Glória celestial que ressoou pelos montes da Judéia naquela noite. Fala depois da Natividade do Rei pobre com tal comoção que ao pronunciar a palavra Belém a sua voz treme como um balido, com tal fervor que a multidão arrebatada crê reviver, a treze séculos de distância, o princípio de nossa salvação. A noite corre toda em festa, toda a selva explende e canta, parece que Jesus Menino retornou realmente sobre a terra.
E alguém o vê. Naquela palha em que os olhos não encontram a sua carne em flor, o beato francisco vê um renascido branco e gélido como um pequenino morto. Toma-o nos braços, aperta-o ao coração, aquece-o, anima-se, abre os olhos, acaricia com as mãozinhas o rosto exangue do seu Pobrezinho. E se São Francisco fala por modo que a todos comove, se sua voz treme como um balido, se sua palavra faz reviver nas imaginações Jesus pequenino qual se estivesse presente, é porque para ele está a divina criança de fato presente, é porque seus braços o apertam, seus olhos o vêem e seu coração se funde de amor e gratidão.

São Francisco de Assis - Maria Sticco - 4ª edição - Editora Vozes - 1974.












quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Formações

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O dogma da Imaculada

A Virgem Maria foi preservada de toda mancha do pecado original
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Por ter sido escolhida para ser a Mãe do Verbo humanado, a Virgem Maria foi concebida sem o pecado original. A Mãe do Filho de Deus não poderia ter pecado nenhum, pois ela é a mulher saudada pelo Anjo como “a cheia de graça” (gratia plena); nela tudo é graça.

Os padres da Igreja chamam a Mãe de Deus de "a toda santa" ("Pan-hagia"); celebram-na como "imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito Santo, e formada como uma nova criatura" (LG 56). "Bendita és tu entre as mulheres..."(Lc 1,42). O Concílio de Trento confessou que:

“Foi ela que, primeiro e de uma forma única, se beneficiou da vitória sobre o pecado conquistada por Cristo: ela foi preservada de toda mancha do pecado original e durante toda a vida terrestre, por uma graça especial de Deus, não cometeu nenhuma espécie de pecado” (DS 1573).

É de notar que em 1476 a Festa da Imaculada Conceição foi incluída no Calendário Romano. Em 1570, o Papa Pio V publicou o Novo Ofício e, em 1708, o Papa Clemente XI estendeu a festa a toda a Cristandade tornando-a obrigatória.

Em 27 de novembro de 1830, Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré, na Capela das filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris, e lhe pediu que mandasse cunhar e propagar a devoção à chamada “Medalha Milagrosa”, precisamente com esta inscrição: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.

O Papa Pio IX na Bula "Ineffabilis Deus", de 8 de dezembro de 1854, pronunciou, solenemente como dogma a verdade que a Igreja tomou conhecimento ao longo dos séculos: Maria, "cumulada de graça" por Deus, foi redimida desde a concepção. Disse o Sumo Pontífice:

"Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, foi por singular graça e privilégio de Deus onipotente em previsão dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do gênero humano, preservada imune de toda mancha de culpa original, foi revelada por Deus, portanto, deve ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis" (DZ 2803).

É fundamental entender que esta santidade absolutamente única da qual Maria é enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição lhe vem inteiramente de Cristo: "Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime" (LG 53). Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a "abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo" (Ef 1,3). Ele a "escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor" (Ef 1,4). (cf. Catecismo da Igreja Católica §492).

Isso significa que Nossa Senhora também foi salva pelos méritos de Cristo, mas de maneira diferente de nós. Enquanto nós fomos feridos pelo pecado original, e depois livres dele pelo batismo, a Virgem Maria foi preservada do pecado (como que vacinada). Assim, todos fomos salvos do pecado por Cristo. O fato de Cristo ter nascido depois da Mãe, não O impede de tê-la salvo, pois para Deus o tempo não é um limitador como para nós; Ele é o Senhor do tempo.

É muito significativo que, quatro anos depois de o Papa Pio IX ter proclamado esse dogma, Nossa Senhora se revelou a Santa Bernadete Soubirous, na Gruta de Lourdes desta forma: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Bernadete, pobre menina camponesa, não sabia o que aquilo significava, mas toda a Igreja já conhecia a proclamação do dogma. Maria veio à terra confirmar a verdade e infalibilidade do Papa.

São Bernardino de Sena, falecido em 1444, diz a Virgem Maria:

“Antes de toda criatura fostes, ó Senhora, destinada na mente de Deus para Mãe do Homem Deus. Se não por outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha” (GM, p. 210).

E pergunta Santo Anselmo, bispo e doutor da Igreja (†1109):

“Deus, que pode conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?”. “A Virgem, a quem Deus resolveu dar Seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens e fosse a maior imaginável abaixo de Deus” (idem, p. 212).

Santo Agostinho de Hipona, Bispo e doutor da Igreja (†430) disse:

“Nem se deve tocar na palavra “pecado” em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça” (ibidem, p. 215).

Pergunta São Cirilo de Alexandria (370-444), bispo e doutor da Igreja:

“Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?” (GM, p. 216). Assim Deus jamais permitiu que seu inimigo tocasse naquela em que Ele seria gerado homem”.

Afirma Santo Afonso de Ligório (1787), doutor da Igreja:

“Se conveio ao Pai preservar Maria do pecado, porque Lhe era Filha, e ao Filho porque Lhe era Mãe, está visto que o mesmo se há de dizer do Espírito Santo, de quem era a Virgem Esposa” (GM, p. 218).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com
Prof. Felipe Aquino, casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando Idéias". Saiba mais em Blog do Professor Felipe Site do autor: www.cleofas.com.br

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A BEM-AVENTURANÇA DA PENITÊNCIA - Esposos, irmãos e mães de Nosso Senhofr Jesus Cristo

" E eles são filhos do Pai celestial (Mt 5,45), cujas obras fazem, e são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 12,50) ".

O próprio Frncisco explica como aqueles e aquelas que fazem penitência são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo: " Somos esposos, quando a alma fiel está unida a Nosso Senhor Jesus Cristo pelo Espírito Santo ". Jesus é visto como esposo por Francisco, mas sempre na comunhão com o Espírito Santo. O Espírito Santo é propriamente o Esposo da alma do fiel, esposo que gera o Filho e nos torna irmãos de Jesus Cristo. Jesus é o esposo, enquanto pelo seu Espírito gera, forma e dá à luz os filhos e filhas de Deus.
Somos seus irmãos,quando fazemos "a vontade do Pai, que está nos céus" (Mt 12,50). Realizar a vontade do Pai consiste em amar a Deus sobre as coisas e ao próximo como a nós memsmos.
Somos mães, quando o trazemos em nosso coração e em nosso corpo (1Cor,20) pelo amor divino e por uma consciência pura e sincera; e o damos à luz pelas obras santas que, pelo exemplo, devem ser luz para os outros (Mt 5,26). Como Maria e com Maria, todo ser humano é chamado a ser mãe de Deus, mãe de Jesus Cristo. O próprio Cristo o afirma no Evangelho: Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (Lc 8,21).
O
modo como os fiéis podem tornar-se mães, moradas, templos do Senhor vem maravilhosamente sintetizado no n. 5 da Regra da OFS:
Os franciscanos seculares, portanto, procurem a pessoa vivente e operante do Cristo nos irmãos, na Sagrada Escritura, na Igreja e nas ações litúrgicas. A fé de São Francisco, que ditou estas palavras: "Nada vejo corporalmente neste mundo do altíssimo Filho de Deus, senão o seu santíssimo Corpo e o santíssimo Sangue", seja para eles a inspiração e ocaminho da sua vida eucarística.
Ser
mãe do Senhor, a exemplo de Maria, sendo serva, manto morada, tabernáculo, palácio do Senhor, é fruto da atitude de penitência de "odiar o próprio corpo com seus vícios e pecados e receber o Corpo do Senhor". São os dignos frutos de penitência. Nisto está a verdadeira felicidade. Realiza-se o que o anjo disse a Maria: Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo (lc 1,28). O Senhor está contigo, o Senhor está em ti. Existe maior felicidade do que esta?!

Meu Deus e meu tudo - Frei Alberto Beckhäuser, ofm - Ed. Vozes - 2001.