Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

domingo, 12 de setembro de 2010

OS ESTÍGMAS

Celebramos a festa dos estígmas ou chagas de S. Francisco no dia 17 de setembro. E foi assim que tal fato aconteceu: "Numa estadia que fez no eremitério chamado Alverne, que tem esse nome por causa de sua localização, dois anos antes de entregar sua alma ao céu, teve uma visão de Deus em que viu um homem, com aparência de Serafim de seis asas, que pairou acima dele com os braços abertos e os pés juntos, pregado numa cruz. Duas asas elevavam-se sobre a cabeça, duas estendiam-se para voar e duas cobriam o corpo inteiro. Quando o servo do Altíssimo viu isso ficou muitíssimo admirado, mas não compreendia o sentido dela. Sentia um grande prazer e uma alegria enorme por ver que o Serafim olhava para ele com bondosso e afável respeito. Sua beleza era indizível, mas o fato de estar pregado na cruz e a crueldade de sua paixão atormentavam-no totalmente. Assim se levantou, triste e ao mesmo tempo alegre, alternando em si mesmo os sentimentos de alegria e de dor. Tentava descobrir o significado da visão e seu espírito estava muinto ansioso para compreender o seu sentido. Sua inteligência ainda não tinha chegado a nenhuma clareza, mas seu coração estava inteiramente dominado por esta visão, quando, em suas mãos e pés começaram a aparecer, assim como as vira pouco antes no homem crucificado, as marcas de quatro cravos.
Suas mãos e pés pareciam atravessados bem no meio pelos cravos, aparecendo as cabeças no interior das mãos e em cima dos pés, com as pontas saindo do outro lado. Os sinais eram redondos no interior das mãs e longos no lado de fora, dixando ver um pdaço de carne como se fossem pontas de cravos entortadas e rebatidas, saindo parafora da carne. Também nos pés estavam marcados os sinais dos cravos, sobressaindo da carne. O lado direito parecia atravessado por uma lança, com uma cicatriz fechada que muintas vezes soltava sangue, de maneira que sua túnica e suas calças estavam muintas vezes banhadas no sagrado sangue.
Infelizmente, foram muinto poucos os que mereceram ver a ferida sagrada do seu peito, enquanto viveu crucificado! Feliz foi Frei Elias, que a viu diversas vezez durante a vida do santo. Não menos feliz foi Frei Rufino, que a tocou com suas próprias mãos. Porque uma ves em que Frei Rufino pôs as mãos no peito do santo homem para friccioná-lo, sua mão escorregou, como costuma, para o lado direito, e tocou por acaso a preciosa cicatriz. A dor que o santo sentiu não foi pequena, e afastando a mão clamou a Deus para que o poupasse.
Pois tinha muinto cuidado em esconder essas coisas dos estranhos, e ocultava-as mesmo dos mais chegados, de maneira que até os irmãos que eram seus companheiros e seuidores mais devotados não souberam delas por muinto tempo.

(1Cel, cap.3,94-segundo livro)

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