Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O SERÁFICO PAI É RECOLHIDO PELA IRMÃ MORTE, ENTRA NA VIDA.

Francisco, percebendo que nada mais lhe restava fazer neste mundo, após ter amado tanto a todos e a tudo, pediu para retornar à Porciúncula. A irmã Morte estava vizinha.
Chegado à planície, pediu que o colocassem sobre u'a máca e, dirigindo o seu olhar quase cego para o lado da cidade de Assis, invocou sobre ela e sobre os irmãos a beção de Deus. Como ele amara a cidade de Assis, e como nela foi amado! Se Jesus disse que ninguém é profeta em sua terra, para Francisco ele exceção.
Nos últimos dias de vida, ditou o Testamento, autotestemunho de incalculável valor para a vida e os propósitos deste homem tão singular.
Com a proximidade da morte, pediu que o deitassem nu, no chão, unido à irmã Terra. Depois aceitou emprestado o hábito que o gardião lhe dá. Agradeceu mais esta esmola.
De São Damião veio o recado de Clara, dizendo que gostaria muinto de vê-lo mais uma vez, ao que Francisco respondeu que "ir até lá, não podia mais. Porém, elas o veriam mais uma vez".
Pediu que chamassem frei Ângelo e frei Leão, para lhe cantarem mais uma vez o Cântico do Irmão Sol. E várias vezes pedia que o repetissem, e ele acrescentava a estrofe da irmã Morte.
Francisco lembrou-se de uma grande amiga romana, Jacoba de Settesoli, viúva de um patrício romano e mãe de dois filhos. Ao ir a Roma, Francisco se afeiçoara a ela e ela a ele. Gostava de ir à sua casa conversar e comer uns docinhos especiais que Jacoba sabia fazer. "Vão a Roma, e contem à senhora Jacoba a minha situação. Ela gostará de saber. E peçam que ela traga uma túnica e aquele doce de amêndoa que me preparava quando eu ia a Roma". Mal acabou de falar, batem à porta. É Jacoba que chegava. Tinha sido avisada do estado do pai Francisco. Pela lei, nenhuma mulher podia ter acesso à Porciúncula, mas Francisco fez exceção, dizendo: "A proibição não vale para ela. Deixem entrar "frei Jacoba". Jacoba entrou, feliz por ver o grande amigo, abraçou-o com ternura, chorou e oferece-lhe a veste e o doce, que Francisco não pode mais comer.
Francisco pediu que lhe trouxessem um pão, partiu-o e deu um pedaço a cada um dos presentes, em sinal de amor mútuo e de paz dizendo: "Eu fiz a minha parte. Que Cristo vos ensine a fazer a vossa". Fez ler o Evangelho da Última Ceia e abençoou os filhos seus. Presentes e futuros.
Na tarde de 3 de outubro de 1226, o mundo perdia seu filho mais original, mais santo, o único homem amado em todo o mundo e em todos os tempos. Francisco morreu, morreu cantando. "Frei" Jacoba foi chamada por um irmão: "Vem para que possas ter nos braços, depois de morto, aquele a quem tanto amaste quando vivo". Foi ela a primeira pessoa que teve acesso a seu corpo, que foi colocado em seu colo, e ela ficou como Maria com o Filho morto. Jacoba viu as dolorosas chagas de Francisco. Chorava, gemia, soluçava e o abraçava ternamente. Jacoba nunca mais o esqueceu. Pouco depois veio morar em Assis, ali permanecendo até a morte.
Francisco tinha pedido para ser enterrado no cemitério dos criminosos, mas não o obedeceram. No dia seguinte, 4 de outubro, foi sepultado na igreja de São Jorge, na cidade de Assis. Antes o cortejo fúnebre passou pelo mostreiro de São Damião, para a despedida de Clara e das Senhoras Pobres. Cumpria-se assim a promessa de Francisco de que Clara o veria ais uma vez. O corpo do Santo foi erguido, para que Clara e as claríssas pudessem vê-lo bem. E como choraram a falta do amigo querido! Clara e Jacoba, estas duas grandes mulheres, passaram os longos anos que lhes restaram de vida na saudade de Francisco.
No dia 16 de julho de 1228, o grande amigo franciscano Hugolino, agora Papa Gregório IX, vai pessoalmente a Assis para canonizar Francisco. O pai Francisco é agora o universal São Francisco de Assis.

São Francisco, o poeta da criação, Pe José Artuíno Besen - Ed. Mundo e Missão - 2005.









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