Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado. Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus. Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas: "Sou o arauto do Grande Rei". Bateram nele e o lançaram numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: "Fica por aí, miserável arauto de Deus". Francisco esperou que fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor (S.Boaventura - Legenda Maior, Cap.2, 5).

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

POR QUE E COMO FAZER O RETIRO ESPIRITUAL?

Frei Almir Ribeiro Guimarãe, OFM (RJ)
Assistente Espiritual Nacional da OFS

1. Ninguém duvida da importância e da necessidade que todos os irmãos e irmãs venham a fazer seu retiro espiritual anual. Trata-se de uma prática saudável e imprescindível para aqueles que querem viver a perfeição da caridade na vida evangélica franciscana. A poeira dos caminhos vai cobrindo nosso ideal. É urgente parar, parar de verdade.
2. O retiro não é um encontro fraterno, sem mais. Não é dia de estudo. Não é cdurso de psicologia. Retiro é retiro.
3. O retiro é tempo de recolhimento, de fazer uma viagem ao fundo do coração, de deixar as coisas cotidianas e se adentrar no mistério de Deus. Neste tempo aflora em nossa mente a eterna pergunta: "O que tu queres de mim, Senhor?" Com o passar do tempo o que andamos fazendo de nossa vida? Estamos sendo fiéis às promessas de nossa profissão?
4. Palestras, círculos, momentos de reflexão pessoal, celebrações, sacramento da penitência compõem a estratégia do retiro. As palestras não serão longos demais, nem numerosas. Abordarão temas da vida cristã e do seguimento e do seguimento do Cristo na vida franciscana. Não são abordados assuntos "curiosos. Importante que um irmão ou um assistente espiritual nos ajude. Normalmente, terminada a reflexão, seria de bom alvitre o recolhimento, o expor-se ao Santíssimo a comparação doq ue foi dito com a vida de quem ouve. Os momentos de silêncio são fundamentais e não um luxo. Há os que desejam um retiro totalmente em silêncio. Há os que preferem também momentos de encontro entre os irmãos e, colóquios fraternos e em partilha espiritual.
5. Parece bom que os irmãos possam fazer um bom exame de sua consciência e tenham ocasião de receber o sacramento do perdão.
6. Muintas vezes os retiros começam na noite de 6ª feira e vão até o domingo depois do almoço. Menos tempo não seria bom. Bom mesmo seria se os irmão e irmãs pudessem dormir no local do retiro... Diria mais: ideal se pudessem organizar um retiro mais rigoroso e umas outras duas vezes, no primeiro e segundo semestre tardes de recolhimento, por exemplo, em preparação para a páscoa e para o natal. Tudo isso visa despertar nossa fé. A falta de motivação para a vida cristã e franciscana pode ser sanada quando o coração reencontra o primeiro amor. Fazemos retiro para alimentar a chama do nosso fervor.
7. Não podemos descuidar. Um texto franciscano que busca levar o irmão ao fundo do coração, assim se exprime: " Preparar uma morada para Ele exige uma revisão do uso do tempo, procurando espaços de gratuidade e liberdade para si e para a Fraternidade; exige o cultivo de leituras adequadas; exige dar tempo para a oração. Haveremos sempre de examinar esta dimensão em nossos projetos de vida fraterna..."
"Quem reencontra o caminho do coração e se dirige às regiões da profundidade começa um novo êxodo ou empreende uma viagem como a de Abraão: deixa suas seguranças, sua parentela, a terra firme em que costumava pisar e se dirige a horizontes novos que Deus haverá de lhe indicar". Os que praticam o retiro acolhema visita do Inesperado.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

Brasil Franciscano: [Leitura Orante ou] Lectio Divina

Brasil Franciscano: [Leitura Orante ou] Lectio Divina: "por Helber Clayton* Muitos já ensinaram sobre a Lectio Divina, sua origem, seus passos, seus objetivos. Sobre o tema é fácil d..."

Brasil Franciscano: Francisco e o Evangelho

Brasil Franciscano: Francisco e o Evangelho: "Reflexão para o mês da Bílblia Setembro, mês da Bíblia, Outubro mês de nosso padroeiro São Francisco. Como essas duas celebrações podem con..."

domingo, 22 de agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

COMO S. FRANCISCO RECEBEU O CONSELHO DE SANTA CLARA E DO SANTO FREI SILVESTRE DE QUE DEVIA, PREGANDO, CONVERTER MUINTA GENTE ( E FUNDOU A OFS).

O humilde servo de Cristo S. Francisco, pouco tempo depois de sua conversão, tendo já reunido e recebido na Ordem muintos companheiros, entrou a pensar muinto e ficou em dúvida sobre o que devia fazer, se somente entregar-se à oração, ou bem a pregar algumas vezes: sobre isso desejava muinto saber a vontade de Deus. E porque a humildade que tinha não o deixava presumir de si nem de suas orações, pensou de conhecer a vontade divina por meio das orações, pensou de conhecer a vontade divina por meio das orações dos outros. Pelo que chamou Frei Masseo e desse-lhe assim: "Vai a Soror Clara e dize-lhe da minha parte que ela com algumas das mais espirituais companheiras rogue devotamente a Deus seja de seu agrado mostrar-me o que mais me convém: se me dedicar à pregação ou somente à oração. E depois vai a Frei Silvestre e deze-lhe o mesmo". Este fora no século (mundo) aquele monsior Silvestre, que vira uma cruz de ouro sair da boca de S. Francisco, a qual era tão alta que ia até o céu e tão larga que tocava os extremos do mundo. Era este Frei Silvestre de tanta devoção e de tanta santidade, que tudo quanto pedia a Deus obtinha e muintas vezes falava com Deus; e por isso S. Francisco tinha por ele grande devoção. Foi Frei Masseo, e conforme a ordem de S. Francisco, deu conta da embaixada primeiramente a Santa Clara e depois a Frei Silvestre. O qual, logo que a recebeu, imediatamente se pôs em oração e, rezando, obteve a resposta divina, e voltou a Frei Masseo e disse-lhe assim: "Isto disse Deus para dizeres ao irmão Francisco: que Deus não o chamou a este estado somente para si, mas para que ele obtenha fruto das almas e que muintos por ele sejam salvos". Obtida esta resposta, Frei Masseo voltou a Santa Clara para saber o que ela tinha conseguido de Deus; e respondeu que ela e outra companheira tinham obtido de Deus a mesma resposta que tivera Frei Silvestre. Com isto tornou Frei Masseo a S. Francisco, e S. Francisco o recebeu com grandíssima caridade, lavando-lhe os pés e preparando-lhe o jantar. E depois de comer, S. Francisco chamou Frei Masseo ao bosque e aí, diante dele, se ajoelhou e tirou o capuz, pondo os braços em cruz, e perguntou-lhe: "Que é que ordena que eu faça o meu Senhor Jesus Cristo?" Respondeu Frei Masseo: " Tanto a Frei Silvestre como a Soror Clara e à irmã, Cristo respondeu e revelou que sua vontade é que vás pelo mundo a pregar, porque ele não te escolheu para ti somente, mas ainda para a salvação dos outros". E então S. Francisco, ouvindo aquela resposta e conhecendo por ela a vontade de Cristo, levantou-se com grandíssimo fervor e disse: "Vamos em nome de Deus". E tomou como companheiro a Frei Masseo e a Frei Ângelo, homens santos. E caminhando com ímpeto de espírito, sem escolher caminhos nem atalhos, chegaram a um castelo que se chamava Savurniano, e S. Francisco se pôs a pregar e primeiramente ordenou às andorinhas que cantavam, que fizessem silêncio até que ele tivesse pregado; e as andorinhas obedeceram. E ali pregou com tal ferver que todos os homens e todas as mulheres daquele castelo, por devoção, queriam seguir atrás dele e abandonar o castelo. Mas S. Francisco não permitiu, dizendo-lhes: "Não tenhais pressa e nãopartais; e ordenarei o que deveis fazer para a salvação de vossas almas". E então pensou em criar a Ordem Terceira para a universal salvação de todos.

I Fioretti, Cap. 16

Obs. A Ordem Terceira chama-se hoje, por força da Regra aprovada por Paulo VI, ORDEM FRANCISCANA SECULAR (OFS). A primeira Regra da Ordem Terceira foi aprovada em 1221.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

RESTAURAÇÃO DA IGREJA DE SÃO DAMIÃO. A VIDA DAS RELIGIOSAS QUE ALI MORAVAM.

A primeira obra que o bem-aventurado Francisco empreendeu depois que obteve total liberdade da parte de seu pai carnal foi edificar a casa de Deus. Mas não a reconstruiu de novo, consertou o que era velho, reparou o que era antigo. Não desfez os alicerces mas edificou sobre eles, reservando essa prerrogativa, mesmo sem pensar, ao Cristo: ninguém pode pôr outro fundamento senão o que foi posto: Cristo Jesus.
Voltou pois ao lugar em que, como dissemos, fora construída antigamente uma igreja de São Damião. Com a graça do Altíssimo, reparou-a cuidadosamente em pouco tempo.
Essa foi aquela casa feliz e abençoada em que teve auspicioso início a família religiosa e nobre Ordem das Senhoras Pobres e santas virgens, quase seis anos depois da conversão do bem-aventurado Francisco e por seu intermédio. Nela estabeleceu-se Clara, natural de Assis, como pedra preciosa e inabalável, alicerce para as outras pedras que haveriam de sobrepor. Pois já tinha começado a existir a Ordem dos Frades quando essa senhora foi convertida para Deus pelos conselhos do santo homem, servindo assim de estímulo e modelo para muintas outras. Foi nobre de nascimento e muinto mais pela graça. Foi virgem no corpo e puríssima no coração; jovem em idade mas amadurecida no espírito. Firme na decisão e ardentíssima no amor de Deus. Rica em sabedoria, sobressaiu na humildade. Foi Clara de nome de, mais clara por sua vida e claríssima em suas virtudes.
Sobre ela foi edificada uma estrutura das mais preciosas pérolas, cujo louvor não vem dos homens mas de Deus. É impossível compreendê-la com nossa estreita inteligência e apresentá-la em poucas palavras.
Antes de tudo, elas possuem a virtude da mútua e constante caridade, que a tal ponto une suas vontades que, vivendo em número de quarenta ou cinquenta em um mesmo lugar, parecem ter uma só vontade e uma só opinião. Brilha também em cada uma a jóia da humildade, que conserva os dons recebidos do céu e lhes merece outras virtudes. O lírio da virgindade e da pureza perfuma-as todas, a ponto de esquecerem os pensamentos terrenos e desejarem apenas meditar nos celestiais. Essa fragância acende em seus corações tão grande amor pelo Esposo eterno, que a sinceridade desse afeto sagrado apaga todas as lembranças da vida passada. São exornadas de tão grande pobreza que nunca se permitem satisfações no comer e no vestir, mas só o que é de necessidade extrema.
Adquiriram a graça especial da abstinência e do silêncio, a ponto de não precisarem esforçar-se para coibir os apetites carnais e refrear a língua. Algumas delas já se desacostumaram tanto de falar que, quando precisam, mal conseguem lembrar-se de como se formam as palavras. Todas são adornadas pela virtude da paciência, de modo que nenhuma adversidade ou moléstia chega a perturbá-las ou alterá-las. Afinal, chegaram a tal nível de contemplação, que nela aprendem tudo o que devem fazer ou deixar de fazer e aprenderam a se arrebatar por Deus, dedicando a noite e o dia aos louvores divinos e à oração. Digne-se o eterno Deus, com sua santa graça, dar conclusão ainda mais santa a esse santo começo. Baste por enquanto isso que dissemos sobre as virgens consagradas ao Senhor, devotas servas de Cristo, pois sua vida admirável e a glroriosa instiutição que receberam do Papa Gregório, quando ainda era bispo de Óstia, pedem uma obra à parte. ( I Cel, Cap.8).
















domingo, 8 de agosto de 2010

O FRANCISCANISMO SECULAR E SEU LUGAR NO MUNDO

O Capítulo Eletivo da OFS de Manaus, realizado entre os dias 20 e 23 de agosto de 2009, teve como tema a presença do franciscanos secular no mundo. Franciscano Secular, qual é o teu lugar no mundo de hoje? E o lema se exprimia desta maneira: Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-o. Nos últimos muinto se tem falado e escrito a respeito do assunto. Insiste-se, com razão, no cunho secular dos irmãos e irmãs da OFS.
Esta reune leigos e leigas. Trata-se de um movimento secular. Documentos, textos, temas de encontros insistem na secularidade da espiritualidade franciscana dos terceiros. Estamos na era dos leigos. A OFS não é um movimento apenas de pessoas piedosas, mas uma rede internacional de pessoas que vivenciam seu encontro com Cristo e sua fé no mundo. Fazem até uma promessa/profissão/compromisso de viver o Evangelho no coração das realidades terrestres. O lugar do franciscano secular é o grande mundo, o mundo das transformações sociais, culturais e religiosas.
Nem sempre os franciscanos seculares conseguem chegar a uma maturidade humana e cristã em sua qualidade de leigos. Os formadores procurarão fazer de sorte que eles não sejam clérigos ou religiosos disfarçados, mas leigos, verdadeiramente leigos. Um leigo maduro é aquele que assume o seu papel transformador na família, no ambiente em que vive, nas atividades da Igreja próprias à sua condição. Necessário refletir sobre o leigo nos documentos da Igreja. O Documento de Aparecida pode ser de muinta ajuda nesse sentido. Importante também que, nas reuniões, se use o método do ver, julgar e agir a fim de que todos possam ter espírito crítico deiante de uma realidade que precisa ser iluminada e transformada pela força do Evangelho, Evangelho esse professado como regra de vida dos seculares franciscanos.
Os franciscanos seculares precisam ser capazes de mostrar, através de atitudes e palavras, que não dão seu aval a uma sociedade consumista, exploradora dos pequenos, cultuadora do prazer e defensora de uma provisioridade que destrói o compromisso na vida. Queremos, de modo particular pela vida concreta da fraternidade à maneira de Francisco, lutar contra o individualismo que penetrou já no sacrário de nossa interioridade. Não somos mais seres fraternos.
O primeiro lugar do franciscano secular é sua família: esposo e esposa profundamente cristãos; educação dos filhos para uma vida digna, mas despojada, singela, franciscana; instauração da Igreja doméstica, casas onde as pessoas se interagem pelas pessoas, de modo especial os parentes mais necessitados e os visinhos que mais precisam. Sem uma família renovada e cristã o mundo dificilmente se transforma. No seio da família também se haverá de rever o delicado tema da sexualidade. Pensemos em família e pensemos em vizinhança.
Os franciscanos seculares trabalham de maneira diferente. Não visam apenas dinheiro e lucro. Trabalham para servir. Trabalham e lutam para que trabalhadores sejam respeitadoss em sua dignidade de homem, o mundo, a natureza, a água, o verde sejam respeitados e conservados. O serviço de preservação e cuidado pela natureza não é um luxo. Nossas Fraternidades estarão unidas a todos os esforços para a preservação do meio ambiente.
O lugar do franciscano secular é de modo especial onde estão os mais abandonados: doentes, idosos, pobres envergonhados, pecadores, pessoas que foram abandonadas por seus familiáres, minorias sofredoras. Todas as Fraternidades, dentro do possível, deveriam ter alguns dos seus membros cuidando dos mais carentes, sem pretenção de aparecer, de receber elogios e reconhecimento.
O lugar do franciscano é o mundo todo. Há terceiros nas cátedras das universidades, nas escolas de filosofia, no ateliê das costureiras, nos partidos políticos, na construção de prédios e abertura de estradas, trabalhando nas repartições públicas e nos balcões do comércio. Tudo é bom para quem ama a Deus seraficamente como Francisco. Duas atitudes haverão de acompanhar o franciscano no mundo: humildade-minoridade e espírito de fraternidade. Estas posturas tornam bela a vida franciscana secular.
A força e o vigor das reuniões da fraternidade ajudam na linha da descoberta da missão no mundo. O Assistente, de modo especial, haverá de ajudar os leigos a não se adaptarem aos esquemas do mundo. Com efeito, os que se deixam tocar pelo Evangelho de Jesus não pertencem ao mundo da concorrência doentia, da aparência, do lucro. Não se conformam com este mundo. São irmãos e irmãs da penitência. Levam a sério o caminho da conversão. Sabem que a conversão leva à vida.

Ler Documento de Aparecida números 65 e 469

Artigo de Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Revista Paz e Bem, pág. 10 - Novembro/Dezembro - 2009

sábado, 7 de agosto de 2010

O estilo de vida dos inícios

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Aos poucos as irmãs, instaladas em São Damião, vão descobrindo o seu caminho. Não nos esqueçamos que, nesse início, elas eram não eram mais do que três. A descrição que segue é de Chiara Giovanna Cresmaschi, no seu sólido trabalho Chiara di Assisi. Un silenzio chi grida (p. 51ss). Tudo simples, sem “manual de uso”. Um vida inventada, iluminada pelo carisma de Francisco. Uma novidade na Igreja.

1. Vida eremítica fraterna

• Entre as três companheiras não há uma autoridade em sentido estrito, mesmo que seja Clara, com seu exemplo, quem vai abrindo o caminho. Pode-se dizer que o gênero de vida experimentado ali se assemelha ao que, mais tarde, Francisco descreveria na sua pequena Regra para os eremitérios. As três irmãs assumem, cada uma a seu turno, o papel de Maria, dedicando-se à contemplação e, depois o de Marta, que se ocupa daquilo que é necessário para a vida de todos os dias, ou seja, o trabalho.

• Pode-se dizer que, ao longo do dia, as irmãs rezavam partes da Liturgia das Horas seguida de uma vigília noturna. Não se pode afirmar que a recitação de todas as partes da Liturgia das Horas se fazia, desde o começo, em São Damião. Não se deve esquecer que o preço dos livros para o ofício era tão caro quanto à compra de um campo. Por isso, havia o costume de se copiar à mão os textos da liturgia, o que demandava tempo e produzia cansaço. Para os frades menores, isso se tinha tornado materialmente mais fácil com a chegada dos primeiros irmãos sacerdotes, que podiam colocar à disposição seus breviários para serem pacientemente copiados.

• Assim, nos primórdios de São Damião sobrava muito tempo para a oração pessoal, para deixar que a Palavra chegasse ao fundo do coração e conduzisse ao diálogo silencioso com o Tu divino na contemplação de seu mistério.

• Perto de São Damião moravam frades que pediam esmolas de porta em porta, também para a sobrevivência das irmãs. No começo o resultado do peditório não era grande coisa. Os frades não contavam ainda com a simpatia da população. Havia também uma desconfiança para com essas mulheres que tinham deixado suas belas residências na cidade para viverem daquela maneira tão indigente, tão indigna de sua classe social. Devido ao fato de terem pouca coisa para cozinhar, sobrava tempo para a irmã da cozinha se dedicar à oração. Logo se cultivará uma pequena horta com verduras e legumes para a subsistência das irmãs. A falta de bens materiais não é motivo de tristeza, mas causa de alegria. Incentivadas por Clara, as irmãs simples e alegremente se aproximam do “mesa do Senhor” e rendem graças na alegria do Espírito. O entusiasmo dos começos facilita suportar a situação, mas é Cristo Jesus quem lhes dá força. A contemplação de Cristo em todos os seus mistérios e vivamente presente, como que respirado naquele clima de silêncio, é que alimenta a comunhão de amor com o Deus Trino e as irmãs.

2. Como os menores

• Estas mulheres aristocráticas fazem uma opção de classe. Colocam-se voluntariamente entre os últimos da sociedade, daqueles que não têm direitos e a todos estão sujeitos. A escolha da veste já revela sua condição social. No dia-a-dia da vida procuram adquirir a mentalidade do pobre que coloca toda a sua confiança no Senhor. Foram, com efeito, aprendendo a espiritualidade do pobre através da meditação dos salmos e do seu relacionamento com os deserdados que batiam à porta pedindo um pedaço de pão. Mesmo vivendo de esmolas partilhavam com os outros a riqueza de sua pobreza. Pobres voluntariamente elas experimentam praticamente a insegurança a respeito do amanhã como a mãe que não sabe como alimentar nos dias seguintes os filhos famintos. Fazem, assim, a importante experiência da insegurança. Clara e suas irmãs compreendem a força da palavra do Evangelho: aquele que nutre os pássaros dos céus e veste os lírios do campo não deixará faltar roupa e alimento para os que a ele se confiam (cf. Mt 6,26-28). Esta passagem vai aparecer mais tarde no Privilégio da Pobreza.

3. Três irmãs num único Amor

• A atitude do pobre, que tudo espera do Pai, está estreitamente associada à solidariedade típica dos camponeses. Vivem as irmãs juntas, reunidas pelo mesmo Espírito, e sabem que ele continua sendo derramado em suas vidas no seu dia-a-dia. A necessidade de inventar um caminho próprio a ser percorrido, um estilo próprio de vida faz com que as irmãs se dediquem o mais possível à oração silenciosa, porque somente o diálogo com Este que as irmãs querem seguir apaixonadamente abrirá caminhos. Era necessário discernir. O estar juntas, a concreteza de serem irmãs para as quais basta um olhar, uma mão que se estende para ajudar a que um peso seja mais facilmente carregado, essa condição de fraternidade ou se sororidade se faz no diálogo. Assim, de modo informal, sem prescrições pormenorizadas, começa a tomar corpo aquilo que depois se denominaria de Capítulo semanal. No momento havia a escuta da Palavra e a certeza de como esta se torna vida. Há também a consciência da própria fraqueza buscando a ajuda fraterna. Não poderia deixar de haver uma conversa a respeito da organização da vida de cada dia, como a busca de solução para perguntas que iam surgindo. Nasce assim o fazer juntos, a corresponsabilidade que emergirá da Forma de Vida de Clara e que constitui uma das características mais essenciais e singulares para a sua época. Trata-se de um modo de estarem juntas pouco estruturado, marcado por uma calorosa comunhão fraterna que nada perderá de seu ardor quando as irmãs se tornarem mais numerosas e se revestirá de modalidades mais minuciosas. Calor humano favorecido pelo fato que elas se conhecem e fazem aparecer os traços de uma amizade no Espírito. Cria-se um clima familiar.

4. O trabalho

• Um dos aspectos da vida que era muito levado em consideração era a questão do trabalho. As irmãs se ocupavam em fiar, tecer e bordar. Normalmente se pode crer que tinham os instrumentos para o trabalho. O destino do resultado ou do fruto do trabalho será decidido mais tarde. Desde o início, ficou claro que as irmãs deveriam trabalhar com as próprias mãos. Seria marca de seu estilo de vida. Será preciso esperar o andar da história para que reflita os pormenores da concepção clariana do trabalho.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

FRANCISCO E INOCÊNCIO III

E assim, a Ordem dos Frades Menores foi crescendo. Francisco, quando eles já eram doze, à semelhança do apóstolos que também foram doze, resolveu partir com eles para Roma, a fim de pedir a benção do Papa e a aprovação de sua Regra, ou forma de vida. A Regra continha trechos do Evangelho, ao qual eles queriam seguir piamente. E para la partiram com seus andrajos e pés descalços. Iam alegres pela estradas empoeiradas e cheias de pedras, atravessavam rios, e iam cantando os louvores do Senhor. Iam se apresentar ao grande Papa Inocêncio III. Inocêncio III foi o Papa de maior poder de toda a história da Igreja. Apresentaram-se com ajuda de um bispo que os conheciam. Entraram com seus trajes maltrapilhos, remendados, diante do Papa e sua Corte. Corte papal com seus cardeais vestidos de seda e púrpura fina. Ali se encontrava o grande e poderoso Papa e o pobrezinho de Assis. Perguntado o que queriam, Francisco lhe entregou um escrito com alguns versículos do Evangelho. Os cardeais e bispos se indignaram com a presença de tal grupo e disseram que oque eles queriam não era viável. Como podem querer viver na pobreza total, sem posses.
Inocêncio III então se lembrou de um sonho que tivera na noite passada. Ele viu que uma coluna da basílica de São João de Latrão, a catedral do Papa, estava ruindo e colocava em risco toda a Basílica, ameaçando derrubá-la. Então apareceu um homem pobre e mal vestido que se coloca no lugar da coluna e, com seu ombro a sustém. O Papa, então, reconhece em Francisco aquele homem. A basílica representa toda a Igreja, que estava em risco. Então o Papa diz aos seus pares: " Meus irmãos! Se disermos que é impossível observar o que eles pedem, devemos então admitir que é impossível viver o Evangelho". Então, Inocêncio III desce de seu trono e beija os pés de Francisco, aprova a sua Regra de Vida e os depede dizendo: " Podem ir irmãos! E quando forem mais numerosos, voltem para que eu vos dê encargos ainda maiores". Tudo isso aconteceu para a Glória de Deus. Paz e Bem!